O messias é um de vocês! |
Havia um mosteiro onde um abade e
quatro outros monges viviam. A ordem
que eles representavam já tinha sido
muito grande, mas, por causa da
perseguição monástica dos séculos XVII
e XVIII, todos os demais mosteiros
foram fechados. Agora, somente cinco
monges viviam na decadente abadia, e
eram todos velhos. Com certeza aquela
ordem estava condenada.
Escondida na floresta que rodeava o
mosteiro havia uma cabaninha. Um
rabino da cidade mais próxima às vezes
usava a cabana para fazer retiro. Um dia,
o abade, preocupado com o fim de sua
ordem, resolveu visitar o ermitério e
perguntar ao rabino se ele tinha algum
conselho para lhe dar sobre como salvar
o mosteiro.
O rabino recebeu o abade em sua
cabana. Mas, quando o monge lhe
explicou o motivo de sua visita, o velho
rabino só pôde se compadecer do outro.
– Eu sei como é – disse o rabino. – O
espírito abandonou as pessoas. É o
mesmo na minha cidade. Quase
ninguém mais vai à sinagoga.
Assim, o rabino velho e o abade só
conseguiram chorar juntos. Eles leram
partes da Torá e conversaram
calmamente sobre assuntos profundos.
Quando o abade se levantou para ir
embora, os dois se abraçaram.
– Que ótimo que conseguimos nos
encontrar, depois de todos esses anos –
disseram eles.
– Mas – disse o abade – eu falhei no
propósito da minha vinda. Não há nada
que possa me dizer, qualquer conselho
capaz de salvar nossa ordem agonizante?
– Sinto muito – respondeu o rabino. –
Não tenho nenhum conselho para lhe
dar. – Então ele pensou por um instante e
acrescentou: – Tudo o que posso lhe dizer
é que o Messias está entre vocês.
Quando o abade voltou ao mosteiro, os
monges se reuniram ao redor dele.
– O que o velho rabino disse? –
perguntaram. – Que conselho ele lhe deu?
– Nenhum – respondeu o abade. – A
não ser que o Messias é um de nós.
Nos dias, semanas e meses que se
seguiram, os velhos monges refletiram
sobre isso, imaginando se havia algum
significado possível nas palavras do
experiente rabino, sobre um deles ser o
Messias.
Será que ele se referia a um dos monges
do mosteiro? Se fosse o caso, qual? Talvez
ele se referisse ao abade. Sim,
provavelmente ele falava do abade, que
era o líder havia mais de uma geração.
Ou talvez ele quisesse indicar o Irmão
Tomás. Certamente o Irmão Tomás era
um homem santo. Todo mundo sabia
como ele era piedoso.
Mas com certeza ele não se referia ao
Irmão Jaime! Jaime era sempre tão
moralista. Pensando bem, ainda que ele
fosse uma pedra nos sapatos dos outros,
estava quase sempre com a razão. Quase
sempre com muita razão! Talvez o rabino
se referisse mesmo ao Irmão Jaime!
Mas certamente não era o Irmão Filipe!
Filipe era um ninguém, tão passivo e
despreocupado. Ainda assim, ele parecia
estar sempre disponível quando alguém
precisava dele! Talvez Filipe fosse o
Messias!
Um de cada vez, os monges pensaram:
“É claro que o rabino não estava falando
de... mim? Ele não podia estar se
referindo a... mim? Sou apenas uma
pessoa comum. Supondo que ele
estivesse falando de mim... Supondo que
eu seja o Messias... Ah, Deus, não, não eu!
Não consigo ser assim tão semelhante a
Cristo, consigo?”.
E, enquanto pensavam assim, os velhos
monges começaram a se tratar com
extraordinário respeito, pela
possibilidade de um deles ser o Messias.
E, pela possibilidade de ser o Messias,
cada um deles começou a tratar a si
mesmo com extraordinário respeito.
Como a floresta onde o mosteiro
estava situado era um local muito bonito,
as pessoas ainda apareciam
ocasionalmente para visitá-lo. E algumas
delas começaram a reparar no modo
como os velhos monges se tratavam.
Havia algo estranhamente atrativo e
instigante naquilo.
Sem saber o porquê, essas pessoas
começaram a voltar com frequência ao
mosteiro para rezar. Elas traziam os
amigos para lhes mostrar esse lugar
especial. E os amigos traziam mais
amigos. Então aconteceu que alguns dos
jovens que iam visitar o mosteiro
começaram a conversar, cada vez mais,
com os velhos monges. Depois de algum
tempo, um jovem pediu para se juntar a
eles. E depois outro. E mais outro...
E assim uma ordem agonizante
retornou à vida e se espalhou em novos
mosteiros, chegando aos mais distantes
cantos do mundo.
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